sábado, 31 de outubro de 2009

Familia: Um projeto de Deus - "O Desmaio"

Amigos!
Quando meu pai não aguentou mais a pressão exercida sobre o "homem do campo", sem nenhuma outra alternativa, desfez-se do que possuía no interior. Primeiro vendeu uma "granja" de soja, depois, ainda sem mais expectativas para a vida de pequeno agricultor, obrigou-se a trocar seu sitio na sede do Km 20, por uma casa na cidade. O menino da roça iria agora para uma aventura quase impossível, há apenas 20 quilômetros dali onde nascera e vivera até então. Era ano de 1975.

Muitos eventos se passaram na minha vida, desde que mudamos para a cidade até o momento dos fatos a ser comentados nas próximas sentenças. Provávelmente eu ainda citarei alguns deles em "posts" vindouros.

Era o ano de 1983. Cidade do município de Francisco Beltrão - Paraná. Todos os anos por ocasião do duplo feriado de 12 de outubro, dia da criança e da padroeira do Brasil, os estudantes das escolas públicas e particulares reuniam-se em torno de uma gincana estudantil. Aliás, os organizadores destas gincanas esmeravam-se em organizar o evento de forma detalhada e cativante. As tarefas para as equipes eram das mais ecléticas possíveis. Poderiam ser simples e divertidas ou sofisticadas e sérias. Poderia ser desde algo simples como arrecadar o maior valor possível em moedas para, "a posteriore", serem doadas a entidades filantrópicas, ou até conseguir um exemplar original de uma carta de alforria em deternimado prazo. Nós, jovens estudantes, esperávamos este dia com grande expectativa e ansiedade. Formávamos as equipes com nome, uniforme, "slogan". A competitividade era enorme. Pais, tios, primos e amigos eram indiretamente envolvidos no cumprimento das tarefas.
(foto: Mapa do Paraná - Em vermelho F. Beltrão)
Naquele ano, nossa equipe estava disputando ponto a ponto para conquistar o primeiro lugar. Geralmente a premiação era uma viagem para algum ponto turísitco do Paraná, como Foz do iguaçú, Vila Velha ou Ilha do Mel. Nem tanto pelos prêmios, mas pelo simples fato de estar ali disputando pela escola, pela turma, pela honra já era o demasiado suficiente para vestirmos a camisa pela causa. Somem a isso o fato da escassez da tecnologia daqueles tempos. Eventos "outdoor" como aquele eram o nosso lazer.
(foto: Francisco Beltrão no tempos atuais. Na nossa época só exitiam dois ou três prédios destes)
Ao findar do dia havia um grande encerramento. E, claro, digno de uma tarefa especial, além da festança organizada pela prefeitura. Todas as equipes receberam um nome de um prominente da cidade. Nomes conhecidos como o do prefeito, presidente da câmara de vereadores, presidente do clube dos lojistas, rotary, lyons, pároco, juiz de direito, promotor, diretor do teatro, deputado estadual residente na cidade e muitos outros "famosos" do município. Nossa equipe se viu incumbida de um nome um tanto estranho. O papelote continha: Horst Brunner - maestro do coral da faculdade. Detalhe, Francisco Beltrão tinha uma faculdade sim. Naquela época, se não me engano, oferecia um curso somente, Economia Doméstica. Até hoje ainda não sei prá que serve.
Bem, voltando à tarefa do "gran finale". Nosso prominente além de ser um morador novo na cidade, havia mudado de bairro na última semana. Procuramos muito. Informações eram guardadas em segredo, devido a acirrada competição entre as equipes.
Meus companheiros de equipe quase "jogaram a toalha". Havia uma esperança, alguém da equipe falou algo interessante. Era o Wlademir, ele sabia que as filhas do maestro eram de uma das equipes concorrentes. Ele, apontando mostrou-me a equipe e descreveu-me uma das filhas. Estavam há apenas alguns metros da gente. Sem pensar muito fui até a equipe mencionada e enquanto caminhava em sua direção admirava a beleza daquela moça. Não conseguia formular nada na cabeça sobre a fala a ser dita quando chegasse até ela, pois meu cérebro ainda estava tentando decifrar aquela fantástica visão. Linda, linda, linda!!! Pensei comigo: - Com esta, poderia me casar!

Cheguei constrangido e nervoso, mas com algum esforço consegui formular alguma frase coerente. Perguntei se ela era mesmo a filha do maestro. Respondeu que sim. Seu rosto meigo, sorriso contagiante, seus cabelos louros e longos, sua voz suave, calaram minha segunda sentença. Aquele "sim" ecoou diversas vezes no meu ouvido e aquela doce voz, simplesmente não desaparecia. Foi um sim tão formoso que a mim parecia a resposta a meu relâmpago pensamento de que "com esta eu casaria"! Nunca em minha vida havia visto uma moça tão bonita assim!!! Literalmente, fiquei ali de queixo caído. Depois de silenciosos segundos, sem piscar e tirar os olhos da maravilhosa menina-moça, caí na real e prossegui com a conversa. Infelizmente não consegui a informação necessária nesta primeira tentativa, não por ela, pois percebi sua vontade em ajudar, mas pela opisição de seus colegas de equipe.

Já nos encontrávamos agora no local do fechamento da grande festa competitiva. Era um Clube Social de tradições gaúchas. Muito comuns no sul do Brasil. Os minutos da contagem regressiva não paravam e para nossa equipe estavam muito rápidos. Mas eu estava com a mente ligada em outra atividade neste momento. Não conseguia tirar da minha cabeça a linda e fascinante moça do "sim" suave e aveludado. Estava encantado.O encanto dos meus sonhos estavam sendo revelados na vida real. Meu cérebro não parava de processar a recente memória. Somente alguns minutos haviam se passado desde a "inequecível" primeira vez que a vi e eu já havia rebobinado a fita dezenas de vezes.

Agora, mais impulsionado pela vontade de estar do lado daquele anjo fantasiado de pessoa, do que com a gincana estudantil, fui mais vez falar com ela. Já descobrira seu nome. Cheguei bem pertinho, peguei suas mãos, fitei seus lindos olhos verdes, e perguntei:- Por favor, Claudia, você poderia me dizer onde teu pai se encontra neste momento, só você pode nos ajudar. Mesmo sob os protestos da sua irmã e toda a equipe, ela me falou onde papai poderia estar. Disse, que neste horário ele costuma visitar doentes no hospital. A resposta poderia ter demorado mais, já não me importava com o resultado final. Mas aqueles breves segundos, segurando suas mãos de pele macia e suave, já foram suficientemente um prêmio valioso e jamais esqueceria. Agradeci e nada mais me restou a não ser soltar suas mãos e voltar com minha equipe.

Em cima da hora, meus colegas de equipe chegaram com nosso "prominente maestro". Homem simpático, carismático, alegre e educado. Cumprimentou-nos um a um. Ofereci a ele uma cadeira. Assentou-se e em sua serinidade ficou atento e observando a alegria da nossa turma pelos créditos da missão cumprida. Uma vez registrados os pontos, agradeci pela sua generosa vontade em vir ao CTG e o deixei de livre escolha se quisesse ir. Acompanhei o andar daquele pai até onde estavam suas filhas. O barulho frenético das torcidas era enorme naquele ambiente fechado. Mas nada tirava minha concentração do que eu estava presenciando naquele momento. Foi algo que marcou minha vida e eu com certeza nunca esquecerei. Ele abraçou a cada uma das filhas, as beijou, as acariciou. Mas não era um abraço qualquer não! Era um abraço seguro, forte, aconchegante, gostoso. Não sei se trocaram algumas palavras e nem poderia ter ouvido, diante à algazarra dos presentes, mas palavras seriam em vão, pois aquele abraço do pai e as filhas falava muito mais alto. Expressava amor, respeito, carinho. Porvávelmente eles estiveram juntos há algumas horas atrás, talvez no café da manhã, mas o abraço parecia de alguém que não se via há semanas ou meses. O relacionamneto entre o pai e as filhas era genuíno, real, verdadeiro. Pensei, que maravilha essa familia!!! A presença das colegas de escola não as constrangeram. Não lembrava de ter visto uma cena tão bonita na minha vida. Ah! Só nos meus sonhos!!! Minha curiosidade foi aguçada naquele exato momento ainda mais, para saber de quem se tratava aquela maravilhosa menina/moça, a quem minha imaginação já pedira em casamento.
(foto: Horst, Leni, Damaris e Claudia Brunner - 1983)
A semana seguinte foi uma investigação total. Endereço, telefone, idade, se compromissada ou não... já sabia de tudo. As informações eram colhidas das mais diversas fontes possíveis. Alguns dias depois eu estava em frente a ela novamente. Desta vez fazendo teste vocal para entrar no coral onde seu pai era maestro e o melhor de tudo, ela, sua irmã e sua mãe cantavam no coral. Os momentos altos da minha vida, passaram a ser os ensaios do coral. As saídas para apresentações. As atividades musicais nunca estiveram tão presentes em minha vida. Não entendia nada de música. Gostava demais de cantar, e confesso, não era meu forte. Mas os olhares constantes que se cruzavam entre nós fariam de mim, músico, cantor, maestro ou qualquer profissão que fosse necessário. Foram momentos inesquecíveis onde raramente trocávamos alguma palavra, mas muitos olhares!!! Este eram vivos e eficazes, falavam mais do que muitas palavras, e expressavam a existência de interesse mútuo que seria muito mais do que amizade.

Certa manhã eu havia saído para buscar uma peça mecânica pela empresa onde trabalhava, e já não mais aguentando a vontade em declarar a ela todo o meu sentimento, toda minha paixão, toda minha admiração e todo meu amor por ela, parei num telefone público, o popular orelhão, e liguei para a sua casa. Sua mãe com acento germânico atendeu e pediu um por um minuto de espera. O minuto para mim pareceu ser uma eternidade. Quando ela atendeu, busquei forças e declarei minha paixão por ela. Só lembro que tudo foi ficando escuro e acabei desmaiando ao telefone, tamanha a emoção!!! Você deve estar rindo a esta hora. Não tem problema, eu faria o mesmo. Alguns taxistas perto dali, perceberam, mas logo voltei ao normal. Infelizmente o telefone estava mudo. Cheguei "branco" ao trabalho e fui até dispensado. Mais tarde expliquei a ela o ocorrido. E assim como vocês, ela também achou tudo muito engraçado.

Começava assim um lindo, romântico, inequecível relacionamento entre nós. Meu sonho de homem "bem casado" estava se tornando em alguma coisa do que poderia ser o início de uma futura realidade. Era final de novembro de 1983. Meus pensamentos eram todos voltados a ela. Meus sonhos agora tinham uma figura real. Haviam personagens com nomes verdadeiros e o roteiro era escrito depois de cada acontecimento. Por um ano inteiro trocamos, cartas, telefonemas, cartões. Nos encontrávamos na saída da escola, em eventos esportivos, na igreja onde seu pai era um dos pastores, nas apresentações culturais. Fomos nos conhecendo sempre mais. Não éramos namorados. Não tínhamos contato físico. Mas reconhecíamos que algo muito bonito e puro estava nascendo em nossos corações e de alguma forma guardávamo-nos uma para o outro.
Eu vivi cada dia desta paixão com tamanha intesidade. Curtia cada olhar, cada encontro, cada gesto. Meus sonhos! Ah! Os meus sonhos agora eram com personagens reais. Eram feitos de fatos reais. Eram criados com perspectiva de não serem mais sonhos num futuro próximo. Eu estava amando alguém de verdade, mas meus sonhos não paravam de ser sonhados! Ah! Os meus sonhos continham início, meio e fim... Deus preparava o início para mim.

Você que conseguiu ler até o final, se quiser deixe um comentário e em breve postarei o terceiro capítulo da série Familia: Um projeto de Deus.
Até a próxima e um forte abraço.
Celso

5 comentários:

  1. Que historia linda
    Isto dá um belo livro :-)
    Agora desmaiar no telefone, eu fiquei imaginando a cena...o amor é capaz de muita coisa mesmo!

    Tudo de bom para voces

    Danielle

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  2. E viva o amor!
    Bjkas Celso e Claúdia,
    adoro vocês.
    Eliane

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  3. Deus ja tinhaa tracado tudo em suas maos essa linda historia de amor e essa familia linda q ele te deu, admiro a cada dia vcs.Vcs ja sao um presente de Deus na minha vida.

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  4. Celso,

    Você é também um ótimo escritor, não deixe de manter seu Blog vivo com posts regulares!

    Parabéns pela linda família, comn certeza benção de Deus.

    Graça e Paz,

    Flavio

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  5. Celso, meu amigo. Adorei o relato e posso dizer que fiquei emocionado. Porém também fiquei curioso. Adoraria saber como seria a mesma história contada pela Claudia :-)

    Bju pra toda a família linda que você tem.

    Karlson

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