sábado, 31 de outubro de 2009

Familia: Um projeto de Deus - "O Desmaio"

Amigos!
Quando meu pai não aguentou mais a pressão exercida sobre o "homem do campo", sem nenhuma outra alternativa, desfez-se do que possuía no interior. Primeiro vendeu uma "granja" de soja, depois, ainda sem mais expectativas para a vida de pequeno agricultor, obrigou-se a trocar seu sitio na sede do Km 20, por uma casa na cidade. O menino da roça iria agora para uma aventura quase impossível, há apenas 20 quilômetros dali onde nascera e vivera até então. Era ano de 1975.

Muitos eventos se passaram na minha vida, desde que mudamos para a cidade até o momento dos fatos a ser comentados nas próximas sentenças. Provávelmente eu ainda citarei alguns deles em "posts" vindouros.

Era o ano de 1983. Cidade do município de Francisco Beltrão - Paraná. Todos os anos por ocasião do duplo feriado de 12 de outubro, dia da criança e da padroeira do Brasil, os estudantes das escolas públicas e particulares reuniam-se em torno de uma gincana estudantil. Aliás, os organizadores destas gincanas esmeravam-se em organizar o evento de forma detalhada e cativante. As tarefas para as equipes eram das mais ecléticas possíveis. Poderiam ser simples e divertidas ou sofisticadas e sérias. Poderia ser desde algo simples como arrecadar o maior valor possível em moedas para, "a posteriore", serem doadas a entidades filantrópicas, ou até conseguir um exemplar original de uma carta de alforria em deternimado prazo. Nós, jovens estudantes, esperávamos este dia com grande expectativa e ansiedade. Formávamos as equipes com nome, uniforme, "slogan". A competitividade era enorme. Pais, tios, primos e amigos eram indiretamente envolvidos no cumprimento das tarefas.
(foto: Mapa do Paraná - Em vermelho F. Beltrão)
Naquele ano, nossa equipe estava disputando ponto a ponto para conquistar o primeiro lugar. Geralmente a premiação era uma viagem para algum ponto turísitco do Paraná, como Foz do iguaçú, Vila Velha ou Ilha do Mel. Nem tanto pelos prêmios, mas pelo simples fato de estar ali disputando pela escola, pela turma, pela honra já era o demasiado suficiente para vestirmos a camisa pela causa. Somem a isso o fato da escassez da tecnologia daqueles tempos. Eventos "outdoor" como aquele eram o nosso lazer.
(foto: Francisco Beltrão no tempos atuais. Na nossa época só exitiam dois ou três prédios destes)
Ao findar do dia havia um grande encerramento. E, claro, digno de uma tarefa especial, além da festança organizada pela prefeitura. Todas as equipes receberam um nome de um prominente da cidade. Nomes conhecidos como o do prefeito, presidente da câmara de vereadores, presidente do clube dos lojistas, rotary, lyons, pároco, juiz de direito, promotor, diretor do teatro, deputado estadual residente na cidade e muitos outros "famosos" do município. Nossa equipe se viu incumbida de um nome um tanto estranho. O papelote continha: Horst Brunner - maestro do coral da faculdade. Detalhe, Francisco Beltrão tinha uma faculdade sim. Naquela época, se não me engano, oferecia um curso somente, Economia Doméstica. Até hoje ainda não sei prá que serve.
Bem, voltando à tarefa do "gran finale". Nosso prominente além de ser um morador novo na cidade, havia mudado de bairro na última semana. Procuramos muito. Informações eram guardadas em segredo, devido a acirrada competição entre as equipes.
Meus companheiros de equipe quase "jogaram a toalha". Havia uma esperança, alguém da equipe falou algo interessante. Era o Wlademir, ele sabia que as filhas do maestro eram de uma das equipes concorrentes. Ele, apontando mostrou-me a equipe e descreveu-me uma das filhas. Estavam há apenas alguns metros da gente. Sem pensar muito fui até a equipe mencionada e enquanto caminhava em sua direção admirava a beleza daquela moça. Não conseguia formular nada na cabeça sobre a fala a ser dita quando chegasse até ela, pois meu cérebro ainda estava tentando decifrar aquela fantástica visão. Linda, linda, linda!!! Pensei comigo: - Com esta, poderia me casar!

Cheguei constrangido e nervoso, mas com algum esforço consegui formular alguma frase coerente. Perguntei se ela era mesmo a filha do maestro. Respondeu que sim. Seu rosto meigo, sorriso contagiante, seus cabelos louros e longos, sua voz suave, calaram minha segunda sentença. Aquele "sim" ecoou diversas vezes no meu ouvido e aquela doce voz, simplesmente não desaparecia. Foi um sim tão formoso que a mim parecia a resposta a meu relâmpago pensamento de que "com esta eu casaria"! Nunca em minha vida havia visto uma moça tão bonita assim!!! Literalmente, fiquei ali de queixo caído. Depois de silenciosos segundos, sem piscar e tirar os olhos da maravilhosa menina-moça, caí na real e prossegui com a conversa. Infelizmente não consegui a informação necessária nesta primeira tentativa, não por ela, pois percebi sua vontade em ajudar, mas pela opisição de seus colegas de equipe.

Já nos encontrávamos agora no local do fechamento da grande festa competitiva. Era um Clube Social de tradições gaúchas. Muito comuns no sul do Brasil. Os minutos da contagem regressiva não paravam e para nossa equipe estavam muito rápidos. Mas eu estava com a mente ligada em outra atividade neste momento. Não conseguia tirar da minha cabeça a linda e fascinante moça do "sim" suave e aveludado. Estava encantado.O encanto dos meus sonhos estavam sendo revelados na vida real. Meu cérebro não parava de processar a recente memória. Somente alguns minutos haviam se passado desde a "inequecível" primeira vez que a vi e eu já havia rebobinado a fita dezenas de vezes.

Agora, mais impulsionado pela vontade de estar do lado daquele anjo fantasiado de pessoa, do que com a gincana estudantil, fui mais vez falar com ela. Já descobrira seu nome. Cheguei bem pertinho, peguei suas mãos, fitei seus lindos olhos verdes, e perguntei:- Por favor, Claudia, você poderia me dizer onde teu pai se encontra neste momento, só você pode nos ajudar. Mesmo sob os protestos da sua irmã e toda a equipe, ela me falou onde papai poderia estar. Disse, que neste horário ele costuma visitar doentes no hospital. A resposta poderia ter demorado mais, já não me importava com o resultado final. Mas aqueles breves segundos, segurando suas mãos de pele macia e suave, já foram suficientemente um prêmio valioso e jamais esqueceria. Agradeci e nada mais me restou a não ser soltar suas mãos e voltar com minha equipe.

Em cima da hora, meus colegas de equipe chegaram com nosso "prominente maestro". Homem simpático, carismático, alegre e educado. Cumprimentou-nos um a um. Ofereci a ele uma cadeira. Assentou-se e em sua serinidade ficou atento e observando a alegria da nossa turma pelos créditos da missão cumprida. Uma vez registrados os pontos, agradeci pela sua generosa vontade em vir ao CTG e o deixei de livre escolha se quisesse ir. Acompanhei o andar daquele pai até onde estavam suas filhas. O barulho frenético das torcidas era enorme naquele ambiente fechado. Mas nada tirava minha concentração do que eu estava presenciando naquele momento. Foi algo que marcou minha vida e eu com certeza nunca esquecerei. Ele abraçou a cada uma das filhas, as beijou, as acariciou. Mas não era um abraço qualquer não! Era um abraço seguro, forte, aconchegante, gostoso. Não sei se trocaram algumas palavras e nem poderia ter ouvido, diante à algazarra dos presentes, mas palavras seriam em vão, pois aquele abraço do pai e as filhas falava muito mais alto. Expressava amor, respeito, carinho. Porvávelmente eles estiveram juntos há algumas horas atrás, talvez no café da manhã, mas o abraço parecia de alguém que não se via há semanas ou meses. O relacionamneto entre o pai e as filhas era genuíno, real, verdadeiro. Pensei, que maravilha essa familia!!! A presença das colegas de escola não as constrangeram. Não lembrava de ter visto uma cena tão bonita na minha vida. Ah! Só nos meus sonhos!!! Minha curiosidade foi aguçada naquele exato momento ainda mais, para saber de quem se tratava aquela maravilhosa menina/moça, a quem minha imaginação já pedira em casamento.
(foto: Horst, Leni, Damaris e Claudia Brunner - 1983)
A semana seguinte foi uma investigação total. Endereço, telefone, idade, se compromissada ou não... já sabia de tudo. As informações eram colhidas das mais diversas fontes possíveis. Alguns dias depois eu estava em frente a ela novamente. Desta vez fazendo teste vocal para entrar no coral onde seu pai era maestro e o melhor de tudo, ela, sua irmã e sua mãe cantavam no coral. Os momentos altos da minha vida, passaram a ser os ensaios do coral. As saídas para apresentações. As atividades musicais nunca estiveram tão presentes em minha vida. Não entendia nada de música. Gostava demais de cantar, e confesso, não era meu forte. Mas os olhares constantes que se cruzavam entre nós fariam de mim, músico, cantor, maestro ou qualquer profissão que fosse necessário. Foram momentos inesquecíveis onde raramente trocávamos alguma palavra, mas muitos olhares!!! Este eram vivos e eficazes, falavam mais do que muitas palavras, e expressavam a existência de interesse mútuo que seria muito mais do que amizade.

Certa manhã eu havia saído para buscar uma peça mecânica pela empresa onde trabalhava, e já não mais aguentando a vontade em declarar a ela todo o meu sentimento, toda minha paixão, toda minha admiração e todo meu amor por ela, parei num telefone público, o popular orelhão, e liguei para a sua casa. Sua mãe com acento germânico atendeu e pediu um por um minuto de espera. O minuto para mim pareceu ser uma eternidade. Quando ela atendeu, busquei forças e declarei minha paixão por ela. Só lembro que tudo foi ficando escuro e acabei desmaiando ao telefone, tamanha a emoção!!! Você deve estar rindo a esta hora. Não tem problema, eu faria o mesmo. Alguns taxistas perto dali, perceberam, mas logo voltei ao normal. Infelizmente o telefone estava mudo. Cheguei "branco" ao trabalho e fui até dispensado. Mais tarde expliquei a ela o ocorrido. E assim como vocês, ela também achou tudo muito engraçado.

Começava assim um lindo, romântico, inequecível relacionamento entre nós. Meu sonho de homem "bem casado" estava se tornando em alguma coisa do que poderia ser o início de uma futura realidade. Era final de novembro de 1983. Meus pensamentos eram todos voltados a ela. Meus sonhos agora tinham uma figura real. Haviam personagens com nomes verdadeiros e o roteiro era escrito depois de cada acontecimento. Por um ano inteiro trocamos, cartas, telefonemas, cartões. Nos encontrávamos na saída da escola, em eventos esportivos, na igreja onde seu pai era um dos pastores, nas apresentações culturais. Fomos nos conhecendo sempre mais. Não éramos namorados. Não tínhamos contato físico. Mas reconhecíamos que algo muito bonito e puro estava nascendo em nossos corações e de alguma forma guardávamo-nos uma para o outro.
Eu vivi cada dia desta paixão com tamanha intesidade. Curtia cada olhar, cada encontro, cada gesto. Meus sonhos! Ah! Os meus sonhos agora eram com personagens reais. Eram feitos de fatos reais. Eram criados com perspectiva de não serem mais sonhos num futuro próximo. Eu estava amando alguém de verdade, mas meus sonhos não paravam de ser sonhados! Ah! Os meus sonhos continham início, meio e fim... Deus preparava o início para mim.

Você que conseguiu ler até o final, se quiser deixe um comentário e em breve postarei o terceiro capítulo da série Familia: Um projeto de Deus.
Até a próxima e um forte abraço.
Celso

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Familia: Um projeto de Deus (Profissão: Homem Casado.)

Queridos amigos!
Vou escrever um pouco nos próximos "posts" a respeito de algo muito importante na minha vida. A familia.
Minha familia, como a de todos vcs, tb não chegou "pronta". O caminho até ela foi longo... cheio de surpresas e muitas barreiras!
Para explicar um pouco disso vou precisar de alguns capítulos. Mas antes disso, terei de voltar um pouco no tempo.
Na foto em pé esq. p/ dir.: Christian , Stephan.
Sentados: Claudia, Daniela e Celso.
Desde minha infância, ainda quando morava lá no km 20, almejava ter um dia, uma familia. Mesmo eu, sempre achei aquele pensamento um tanto precoce. Mas, em meus sonhos de criança sempre houve um espaço especial para uma esposa e filhos. Ah! Os meus sonhos!!!

Lá no km 20 havia uma escola. Acho que muitos devem lembrar da sua primeira escola. A primeira professora ninguém esquece! Temos uma admiração especial pela primeira professora. Parece algo mágico. Ela poderia ser sua mãe, mas não é! Poderia ser sua namorada, impossivel! Ela é sua amiga, sua conselheira, sua ensinadora! Algo fantástico para um menino a desvendar tantos mistérios,em ligar as letras e descobrir palavras, unir palavras e revelar textos. O aprendizado na vida do menino torna-se magia. A leitura produz informação. A Informação personaliza os sonhos, aumenta as possibilidades.... o "beabá" agora é o lúdico, toma posse da vida do pequeno ser iniciante.

Ah! Eu amava minha escolinha da roça. As vezes queria poupar meu par de "congas" e ia descalço mesmo. Sujava o pé de lama. Fazíamos "skating" descalços na estrada de chão batido, quando molhada. Na hora do lanche comia batata assada, carinhosamente assada pela minha mãe, no forno a lenha. Levavamos também outros lanches como: Pé-de-moleque, milho cozido, rapadura, cueca virada, salame e polenta. Que delícia. Ninguém zombava do teu lanche, ninguém ria. Todos comíamos do que a terra nos presenteava. Não havia "ships", não havia batata frita. Refrigerante era raridade e uma ou duas vezes ao mês bebíamos a "gasosa", hoje conhecida por tubaína. Os tempos mudaram!!!

Foto :Salete, Valdecir(meus irmãos) e Celso(repare o detalhe da borboleta do menino!!!!! Moda!!!)

Certo dia a professora Eronita, no terceiro ano primário, resolveu fazer uma pequena enquete. Perguntou aos alunos quais seriam suas aspirações profissionais. Lembro muito bem de como aquela pergunta me deixou intrigado e de repente se tornou um problema para mim. Todos respondiam prontamente. Motorista, jogador de futebol, policial, funcionário público professora,enfermeira,dentista, agricultor, fazendeiro... chegou a minha vez. Minha cabeça estava a mil... Ora, se trata de uma profissão. Algo tão simples. E o teu sonho de ser locutor de rádio? E aquele sonho de voar, voar? Quem sabe piloto? Sei lá diga qualquer coisa. Se não lembra inventa alguma coisa. Não, eu não queria inventar. Queria falar algo compatível com meus sonhos. Estufei o peito e falei. - Professora, eu quero ser um homem casado. A classe caiu na gargalhada. Fiquei branco. Travei. Pensei, o que fiz de errado?! Ela, gentil, meiga e compreensiva indagou: - Como assim casado? Meio sem graça, mas ainda defendendo minha visão surreal. - Sim professora, eu queria dizer isso, um homem muito "bem casado", entende? Lembro que sua mão macia afagou meu rosto e seu olhar sincero tentava expressar uma aprovaçao, como: - Eu te entendo.

As paixões do menino da roça, eram genuinas. Não existiam interferências externas. Telenovelas e romances literários não haviam sido descobertos por ele. Seu sonhos eram da mais pura imaginação. Seus sonhos só podiam vir de Deus. Eles não sofriam influências humanas. A não ser, o fato de ver em seus pais,(Foto:Roldo e Jandira)um casal que lutava para criar seus filhos, sofria demasiadamente. Não eram acostumados a demonstrar afeto um ao outro em nossa frente, mas percebíamos que de alguma forma demonstravam o amor, ora pelo serviço que prestavam para o bom andamento da lar, ora pela preocupação com a saúde um do outro. Naquela época não se falava muito em coisas íntimas, da frustração ou da alegria. Vivia-se. Se haviam mágoas, ninguém os ensinara sobre o perdão. Se havia dor, suportava-se, mesmo que em silêncio. Tentavam acertar na vida a dois com suas próprias forças e da forma como haviam aprendido em seus próprios lares. Mesmo com muito cair e levantar, mesmo com a escassez de informações, mesmo sem ter tido a graça de uma boa instrução... criaram seus filhos dentro de bons princípios, ensinando sobre honestidade e trabalho. Neste ambiente o menino da roça cresceu. Haviam medos, tristezas, obstáculos. Mas, mesmo entre os momentos inseguros, incertos... havia a esperança. Na esperança habitavam os sonhos.

Ah! os sonhos. Estes eram com finais felizes. Eram perfeitos. O mocinho vencia no final. Ah! Os sonhos traziam uma nova expectativa. Uma vida além do "vinte". Uma vida melhor para meus pais, meus irmãos... minha gente!

Não sei o quanto o estimado amigo acredita na vontade de Deus. O menino da roça não fazia idéia do que era isso naquele tempo. Sequer imaginava o que lhe esperava logo a frente. E, mesmo ainda não sabendo direito quem era o Papai do céu, vinha lhe sendo preparada por Ele, uma história muito parecida com seus sonhos.!


Até o próximo post.


Abracos
Celso.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Primeiro de abril de 1966 - Sonhos e aventuras se misturam...


Amigos

Sinceramente nao sei bem por onde começar. Entao vou fazer como a maioria faz. Começar pelo começo.

Nasci no interior do Parana. O meu nascimento foi algo no mínimo interessante. Era primeiro de abril. Minha mãe comecou a ter contrações no final da madrugada. Ainda no clarear do dia meu pai arreiou o cavalo e saiu em busca de uma parteira. Triste destino... dia da mentira no interior não é fácil! Principalmente para um homem como meu pai. Sempre gostou de "pegar" os seus amigos na "história" de primeiro de abril. Naquele dia ele teria de provar que não se tratava de uma brincadeira. Bem, a primeira
parteira não acreditou... pelo que sei da história, foi adiante e conseguiu convencer uma segunda. Ela veio e ajudou no meu nascimento.

Na foto,eu sou o carinha da direita. Acho que eu tinha quase um aninho. Mais uma prova que gordinho é sempre simpático. O "nervosinho" é meu mano Tonhão.

O lugar onde nasci é chamado pela distancia da próxima cidade. Km 20. Muito comum se ouvir por lá até os dias atuais... -Vamos pro vinte? Nao.. hoje não dá, vou jogar bola no 15.! Meus primos moravam no km 30. Seguidamente pegávamos o lotação e iamos até o 30 para passar o final de semana com eles. Digo, nós, pois comigo sempre estava meu irmão mais velho... o da foto. conhecido na época, por Nêne ou Toninho. Cada viagem do 20 para o 30 era uma pequena aventura... quando chovia não tinha condução. Neste caso, faziamos a pé , algumas vezes.

Minha infancia foi naquele lugar e la era meu mundo. Até então, pouco sabia sobre o que havia fora do 20.

Nossas aventuras da época restringiam-se em pescar, caçar, jogar futebol, fazer taipa no córrego criando assim um lugar para brincar na agua. Tinhamos nossas tarefas domésticas. Meu pai além de agricultor, era criador de porcos. Chegou a ter 40 matrizes(porcas criadeiras) de uma só vez. Então, vocês podem imaginar quanto porco de engorda ele tinha... algumas centenas. Meu irmão e eu éramos responsáveis pela limpeza dos chiqueiros. Logo que chegávamos da escola, depois do almoço, começava o batente que só parava mesmo, ao anoitecer. Mas entre uma tarefa e outra, tinhamos tempo de sonhar... como era bom sonhar!!!

Quando haviam jogos, ouviamos o "Grenal" (Internacional e Gremio de Porto Alegre) pela Rádio Guaiba. A noite captávamos rádios de ondas longas e gostávamos de ouvir o programa " A turma da maré mansa" do Rio de Janeiro. Aos 4 anos de idade, lembro do povinho da vila do Km 20, vibrar com os gols do Brasil na copa de 70. Pelé, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto Torres, Jairzinho, entre outros so conheciamos de ouvir os jogos, fervorasamente narrados pelas Rádios Gauchas... Destas audiçoes de futebol nasceu um garoto locutor. Eu narrava tudo o que estava acontecendo por perto, e para amplificar o som usava o funil de abastecimento do forrageiro (máquina de fazer quirera)... aliás, rádio, sempre foi minha paixão! Infelizmente, o máximo que consegui realizar foi gravar algumas participacoes num programa católico na adolescência e mais tarde tive algumas poucas gravaçoes na rádio HCJB que tem sede em Quito no Equador, e os programas em português, são gravados num Estudio em Curitiba.
Em 1970 foi a primeira copa televisionada no Brasil... mas ninguem tinha TV por lá. Em 1974, na copa do mundo da Alemanha, ja pudemos ver alguns jogos pela televisão do Bar do Nildo... que também funcionava como uma parada de onibus para os viajantes do picadão. Unica estrada da epoca ligando Francisco Beltrão a Cascavel no sudoeste/oeste paranaense.

Nosso sitio estava debaixo da rota de vôos Sao Paulo - Foz de Iguaçu. Os aviões passavam duas ou três vezes na semana. A gente observava lá de baixo... ver um avião passando era sempre um acontecimento festivo... Eu ficava imaginando, será que algum dia eu voaria num deles?! Ah.. como sonhar me fazia bem...voar, voar... sonhos, não só de Icaro!!!

Meu pai, depois de algumas consecutivas safras perdidas e aliados a outros efeitos colaterais de estiagem ou chuvas em demasia, somadas a crise economica que o Brasil "sempre" enfrentou, precisou vender o sitio e mudamos para a cidade.
Enfrentamos muitas dificuldades. Graças ao bondoso Deus só não passamos fome. A profissão de meu pai sempre fora agricultor. Mas herdei dele a audácia em enfrentar desafios e começar algo novo. Juntou algum dinheiro e comprou um caminhão C50 a gasolina. Aos 10 anos dirigi pela primeira vez. Minha alegria era ir para o "campo" com ele. Lá, podia dirigir o dia todo o caminhão C50, carregando lenha cortada e levando ate o carregadouro. Onde os caminhães maiores transportavam a lenha até a fábrica de óleo vegetais que abrira próximo dali. O dia começava as 4 horas da manha para a gente e só chegávamos em casa as 10 horas da noite. Ele e eu, estávamos muito juntos na labuta. Em tempos de escola, trabalhava com ele por meio periodo.
Dependendo da distancia do local da extração, carregávamos e transportávamos até 5 cargas destas, como na foto acima, num só dia.
Nos intervalos da vida, da luta, do cansaço e da dor... haviam os sonhos. Ah! como sonhar era bom... meus sonhos sempre tiveram tela de muitas dezenas de polegadas e com HDTV. Meus sonhos eram claros, definidos, especificos... meus sonhos eram parte do real... sonhar era o que mantinha viva a brasa da esperança dentro da vida de um garoto da roça...!!! Sonhar não me custava sequer um centavo!!! O meu sonho continha inicio, meio e fim.
Cada sonho, cada momento vivido, cada lembrança ou fantasia teve importante participação na formação do meu caráter e personalidade... olho para trás e digo: valeu a pena!


Obrigado por você, que leu até o final. Se gostou, logo terá um outro capitulo.

Abraços

Celso

Apresentação



Amigos

Já há muito tempo venho sendo questionado por que não temos um blog. A insistência tem sido tão grande, que acabei me rendendo aos pedidos.

O objetivo principal é divulgar um pouco de nossas aventuras em familia. Como já se passaram anos e muitas viagem aconteceram, vou começar com pequenos capítulos, e quando for possível, postarei fotos.

Um outro objetivo é mostrar um pouco de nossa vida aqui no Canadá. esperamos, com isso, ajudar em alguma coisa aos novos interessados em imigrar para este lugar. Desta forma, vou intercalar textos com nossa história aqui, contanto acontecimentos, eventos e fatos interessantes que foram se passando e ainda hão de acontecer.

Atualmente moramos em Calgary. Somos imigrantes com processo de "entrepreneur " (empresários). Aqui desenvolvemos um trabalho voluntário com imigrantes brasileiros o qual chamamos de "apoio ao imigrante brasileiro". Consiste em oferecer alguns serviços básicos de auxílio ao recém chegado, tais como:
-Buscar no aeroporto.
-Ajudar com hospedagem. (temos familias voluntárias da igreja que podem hospedar)
-Auxiliar na documentação.
-Providenciar móveis e utensílios de cozinha em bom estado para a primeira morada.
-Prestar apoio ao fazer a carteira de motorista.
-Conectar o imigrante ao meio canadense.
-Proporcionar ambiente familiar ao recém chegado e etc...
Este projeto tem o apoio da Igreja dos Cristãos Brasileiros de Calgary.(www.cristaosbrasileiros.ca)


Este carro compramos em 2008. No início não sabíamos bem o que faríamos com ele. Mas quando iniciamos o projeto de apoio ao imigrante, percebemos por qual razão Deus permitiu que o comprássemos.
Nesta Full Van 15 passageiros, já foram feitas dezenas de mudanças.
Incontáveis viagens às montanhas, Edmonton, Banff, BC e etc.
O caminho do aeroporto ela já faz sozinha. He,he!
Já foram coletados e doaodos mais de 700 ítens de móveis e utensílios e todos transportados nesta Van. Graças a Deus por este carro.

Bem amigos, acho que fico por aqui neste primeiro post. Aceito ajuda de todos para divulgar meu Blog... sou leigo no assunto e ainda não conheço bem as ferramentas deste meio.

Abraços e fiquem na Paz de Cristo.
Celso Prando