sábado, 13 de fevereiro de 2010

aventura Brasil Sul a Norte numa 4x4 - Parte 6 - Perdidos no Jalapão

Aeroporto Afonso Pena - Curitiba - PR dia 4 de fevereiro de 2010. DESPEDIDA.
Queridos amigos do blog "Os Giramundo"!

Infelizmente no Brasil só pude postar duas vezes. Nosso tempo por lá, apesar de ter sido quase dois meses, foi muito corrido e não estávamos muito bem equipados com Internet. Por isso deixei de escrever por algumas semanas. No dia 4 de fevereiro deixamos nossa querida turma em Curitiba e voltamos para Calgary, onde encontramos outra turma muito querida. Esta foto foi tirada dia 6 de fevereiro. A rua é a Woodbinewiew. Neste inverno está acontecendo algo de diferente em Calgary. A temperatura não está tão baixa e temos várias vezes na semana, muita neblina. Quando ela acontece com maior intensidade, tudo congela e fica uma paisagem lindíssima, principalmente com os raios do sol...(não foi o caso desta foto aí de cima... sem sol). Mas, como falava, o inverno está mais ameno, se comparado ao último muito vigoroso e estupidamente gelado. Nossa primeira semana aqui foi, prá variar, muitíssimo agitada. Fomos recepcionados pelos Almeida e Cisterna. De lá fomos almoçar no restaurante da Ikea. (BBB. bom, barato e bonito). Nosso filho Stephan estava na escola, mas quando chegou, disparou a contar as novidades e até agora ainda está empolgado. Na semana ainda tivemos amigos aqui em casa (Familia Montes Luz) e no sábado um gostoso e agradável jantar na igreja brasileira em alusão ao Valentine's Day. (dia dos namorados).
Mas agora quero voltar um pouco no tempo e narrar o restante de nossa viagem de 4x4 pelo Brasil. Embora tenha sido em 2004, continua viva em nossa memória a aventura vivida. Foram em torno de 12 mil km pelo litoral brasileiro e região central do Brasil. Havíamos deixado Curitiba no dia 26 de dezembro de 2003. Neste dia do Jalapão, já era 25 de janeiro de 2004.
Entramos no Tocantins justamente atravessando o rio de mesmo nome na divisa entre Maranhão e Tocantins. A impressão obtida deste jovem estado em nossa breve passagem por ele, foi das mais positivas. Gostamos da infraestrutura, as estradas estavam bem conservadas (pelo menos na época). Do povo trabalhador e corajoso.
Demos uma breve parada na capital - Palmas.
Na busca por um bom restaurante, encontramos esta churrascaria. Surpresa!! Os proprietários eram amigos nossos da nossa cidade no interior do Paraná, Francisco Beltrão. Se tivesse marcado, não aconteceria! Ela e da família Turmina e esqueci de que família ele é, só sei que é filho da churrascaria Marabá em Belltrão.
Numa cidadezinha entre Palmas e Ponte Alta do Tocantins, encontramos esta placa de indignação total do novo administrador da cidade. Só no Brasil mesmo!!!!
Aqui já estamos na entrada do parque do Jalapão. Próximos de Ponte Alta do Tocantins. Estas oncinhas são engraçadas...servem água!
Passamos uma noite numa pousada em Ponte Alta e no dia seguinte, mesmo sabendo das chuvas, resolvemos adentrar ao parque do Jalapão. Sem sombra alguma de dúvidas, foi a maior aventura já vivida pela nossa família. Começava aqui uma jornada cheia de fortes emoções e a adrenalina à mil... Rodamos um dia todo para chegar a vila de Mateiros

Ainda no começo da viagem, já nos deparamos com o que seria muito comum para os próximos 500 km de chão que rodaríamos. No início eu ainda desembarcava e dava uma pré-analisada no terreno... digo, no atoleiro..
Depois de alguns quilômetros, já enfrentávamos tudo com a maoir naturalidade e o carro vinha passando por todos os tipos de testes possíveis... e não deixava à desejar... eita carro bom!!!
O que mais assusta é a imensidão e a solidão. Em dois dias de viagem por estas estradas, só encontramos dois carros. Quer dizer, quebrar ou atolar por aí, seria uma má idéia.
Aqui paramos para um banho nesta prainha da cahoeira do rio Novo.Este rio, dizem, é o último rio de água potável do Brasil. A praia fica logo abaixo da Cachoeira da Velha. Nestas águas foram filmadas muitas cenas do filme "Deus é Brasileiro" com A. Fagundes.
A Cachoeira da Velha é um dos pontos mais importantes do Jalapão. Fica um pouco longe da estrada e tem uma trilha que leva até ela... mas vale a pena o esforço! O lugar é lindo.
Em janeiro é justamente a época das chuvas, no centro-norte brasileiro. Todos os rios haviam saído de seu leito. As pontes estavam submersas e eram de madeira. Cada passagem era uma emoção.
A chapada (espigão) ao fundo já era vista de muitos quilômetros atrás. A gente rodava horas e horas e parecia nunca chegar ao pé dos montes.
Aqui estão as Dunas Douradas. Elas se formam a partir do vento que bate nas rochosas ao fundo, desfazendo as pedras de arenito/quartzo e formam-se estes montes de areia ocre. O lugar transmite uma paz inexplicável e só se ouve o gorgear dos pássaros e a festa do periquitos, papagaios e outros do barulho.
Já estava anoitecendo e nada da tal vila de Mateiros. Era em torno 20 horas, quando chegamos na cidade e encontramos facilmente a única pousada da cidade na época. Não era atoa que não tivéssemos encontrado nenhum turista durante todo o dia. Éramos a única familia a se hospedar naquela semana.
A pousada do Cardoso funciona em alguns compartimentos de sua própria casa. O Cardoso, muito gentil, deu um pulo até o restaurante e pediu que preparassem uma refeição para seus hóspedes. Fomos no escuro, até o local. Aos fundos de uma casa, Dona Rosa, atendia seus clientes numa mesa grande de uma tábua só, com dois bancos do mesmo comprimento. Orgulhava-se pelo título de boa cozinheira e por ser o seu local, o único a servir comida ao visitante. Serviu-nos feijão, arroz, mandioca, molho de carne e ovos fritos. Conosco, cearam alguns trabalhadores da região. Fora uma noite diferente e interessante. Depois de muita conversa, alguns testemunhos de nossa fé em Deus e alguns bons outros "causos", voltamos para nossas camas com mosquiteiros. O dia seguinte nos reservava algumas surpresas.
Depois de tomar um café no Cardoso, saímos para comprar alguns mantimentos,afim de levar aos passeios do dia, já que não existe nenhum mercado onde se possa comprar algo, fora da "cidade". Na pasagem para a "casa do pão", tiramos uma foto do restaurante da Dona Rosa, onde havíamos comido na noite anterior. Inesquecível... quando for ao Jalapão manda um abraço pra Dona Rosa, da gente.
Logo depois de sair da vila de Mateiros, fomos conhecer o Fervedouro. Mas, num atoleiro enganoso, atolamos nosso carro até o chassi, num barro muito preto e pagajoso. Há alguns quilômetros dali, havíamos passado por uma casa de um pequeno sítio. Enquanto os meninos e eu tentávamos macaquear a S-10, para fazer ou colocar uma camada de madeira debaixo dela, pedi a Claudia e Dani que fossem até a casa buscar algum tipo de ajuda, pois pelo jeito que atolamos, não seria fácil de sair. Voltaram em seguida, meio assustadas, pois encontraram os donos da casa e mais alguns homens bêbados, em plena segunda feira, 9:00 horas da manhã.
Era tão profundo o lamaçal que o macaco afundava no barro e não levantava o carro. Depois de horas tentando e com a ajuda dos "bebuns" conseguimos tirar o carro da lama preta.
Depois de todo aquele sacrifício, valeu a pena todo o esforço... o Fervedouro é muito interessante.
Você praticamente pode mergulhar e é jogado de volta pela vertente de água quente. Muito gostoso. Dava para "sentar" na água, literalmente. A sensação é de estar flutuando sobre a água.
Para chegar nele, precisa ir por uma trilha e atravessar alguns riachos. Infelizmente não pudemos ficar muito tempo ali. Foram dois os motivos. O primeiro, pela perda do precioso tempo no atoladouro. Segundo, pelo "medo" de pumas e outros bichos que estavam fazendo barulho no meio do mato.
Depois fomos à Cachoeira do Formiga. Linda!!!! Água transparente e cor verde turquesa. Só o Stephan se aventurou num mergulho. Se vc quiser ver um site de viagens do Jalapão segue o link.http://www.jalapao.com/Roteiro.aspx

De volta a Mateiros, conversamos com o dono da bomba de combustível, para ver se não havia algum caminho que cortasse até Dianópolis - Tocantins, pois se chegássemos até lá, evitaríamos de voltar a Ponte Alta de To, Palmas e então pegar a Belem-Brasília. Economizaríamos em torno de 500 km. O fato é, que existia uma estrada que ligaria até as fazendas de soja no município de Luiz Magalhaes, já na Bahia. Mas esta estrada não estava em nenhum mapa e teríamos que nos guiar pelo "faro". Também sabia-se de uma ponte, no rio Sapão, que havia sido levada pela correnteza há algumas semanas. Talvez hoje, já exista alguma rota oficial, mas olhei no mapa de 2008 e ainda não consta nada. Então fizemos 80 km de estradas igual a esta aí da foto de cima. Sem sinalização, sem placas, sem nada. Se quebrássemos ou atolássemos no meio do trajeto, seriam 40 km para trás até Mateiros ou 40 km até as fazendas de soja. Graças a Deus não ocorreu bem isso .
Quando chegamos na planície do soja, nos deparamos com uma verdadeira hidrovia. Era pura água e para variar sempre na divisas das glebas haviam encruzilhadas. Nestas encruzilhadas não se podia discernir qual o caminho a tomar. Contávamos com a sorte. Decidíamos pela intuição qual caminho tomar. Cansados de sempre pensar em termos tomado a decisão errada, resolvemos parar numa fazenda (foto de cima- ao fundo nos eucaliptos) parta ver se alguém poderia nos conduzir para fora do labirinto. Sem contar, que não esquecíamos do tal rio sem a ponte. Estas estradas cheias de água, em alguns pontos eram bem rasas, mas em outros muito profundas, a ponto de submergir até o capô do motor da S10. Não queria molhar o filtro, pois se entrasse água nele, poderíamos comprometer o motor. Na fazenda encontrei conterrâneos paranaenses que nos mandaram um tratorista como guia até passar o Rio Sapão.
Nossa S10, bravamente cruzou pelo rio sem ponte. Não era largo, mas profundo. Ao entrar no rio, o carro literalmente mergulhou nele. Senti quebrar um dos faróis de milha e entortar a proteção tubolar frontal... mas não dei a mínima e com marcha reduzida e tração nas 4, cruzei o "estressado rio Sapão".
O Stephan ficou comigo no Truck, Claudia e Christian cruzaram a pé antes de mim. A Dani ficou atrás aguardando... ela viu, literalmente, o tanque de combustível da s-10. Em suas palavras e chorando inconsolada: - Pai, o nosso carro deu uma "bicuda" no rio...!!! tadinha! Mas logo estava no braços do papai e ficou mais tranquila.
E assim continuou a façanha. Água, muita água! Já não sabia se entrava devagar, na reduzida ou se chutava a toda força... e não chegava mais a tal cooperativa, da qual haviam nos contado o piloto e o engenheiro da fazenda que nos emprestou o guia com o trator. Depois de algumas horas, já escuro, encontramos a tal vila da cooperativa dos colonos. Ali nos hospedamos num alojamento de "viajantes" (vendedores de produtos agrícolas). No mercadinho da vila encomendamos uma pizza. Ao saborear cada pedaço de pizza, todos calados, lembrávamos o que se passara nas últimas horas. Desta vez senti de verdade que havia exagerado na aventura e talvez tenha colocado minha família em risco. Dei graças a Deus por não ter permitido nenhuma desgraça.
No dia seguinte, quando achávamos que já teríamos maior tranquilidade, acabamos entrando num poço de água tão profundo que a água passou do capô dianteiro... não deixei morrer o motor, mas depois fui averiguar e o filtro de ar havia sido molhado. Parei este agricultor e adivinhem? Falei alemão com ele. É do Paraná de Witmarsun em Palmeira. Ali estavam os menonitas. Já falei sobre este povo em de meus primeiros "post". Aproveitei para secar o filtro no escapamento do trator dele.
Aos poucos percebemos os nomes das fazendas entalhadas em pedras nas entradas das sedes. Duck, Penner, Jensen, Pauls, Epp e etc... paramos no Abraham Duck para dar um alozinho. Velho amigo da familia Brunner e pais de nossa amiga Anelise.
Depois disto passamos por um desfiladeiro cuja erosão estava tomando conta de toda a estrada. Haviam apenas alguns metros dela ainda sem serem levados pela água da chuva.
Este caminhão já devia estar aí por alguns dias. Desanimado, o motorista o abandonou.

Hora de abastecer carro e familia toda. estávamos encravados de barro até às orelhas. Fomos para Brasília. Lá, sem perguntar o preço, nos hospedamos no Bonaparte Hotel. Para pensar um pouco em tudo o que se havia passado e tentar tirar a "craca" adquirida no Jalapão, fomos para um banho de banheira maravilhoso. A verdade é que, ainda na semana seguinte, onde passamos uma semana na pousada do Rio Quente - Goiás, podíamos ver vestígios de nossa aventura pela selva Jalapenha. Barro, muito barro grudado na pele.
Era o quarto dia de fevereiro de 2004. Encostávamos nossa s-10 na garagem de nossa casa. Na bagagem muita roupa suja, intermináveis histórias para contar, inesquecíveis lembranças e milhares de fotografias... e um desejo unânime: Queremos voltar e fazer tudo de novo! Valeu a pena.
Não há nada mais prazeroso do que viajar! Não há nada mais gostoso do que voltar para o lar doce lar.
Obrigado por acompanhar nossa aventura com a 4x4. Tem mais por aí... na próxima semana devo iniciar uma nova história.
Obrigado
Celso